Pencas do Capão Seco, uma tradição esquecida
(JONAS)
Capão Seco, localidade rural que tinha nas corridas de cavalo em cancha reta aos finais de semana sua prática esportiva de diversão e lazer.
O povo gaúcho trás em sua história uma relação muito forte e latente com o cavalo. Isso hoje também é evidente, em especial com o homem do campo, que utiliza seu fiel e leal amigo, o cavalo, tanto para lidas rurais, com gado e na lavoura, como para transporte ou passeio. Além de representar uma antiga paixão dos gaúchos, através das corridas de cavalo, atividade que constituíra e por vezes ainda constitui, a prática esportiva do homem rural.
Na Região do Capão Seco, uma localidade do distrito de Povo Novo, pertencente ao município de Rio Grande, encontram-se diversas propriedades rurais, onde predominam a pecuária de corte e leite bem como o cultivo de arroz. Atividades as quais movimentam os trabalhadores da região e propiciam o convívio direto do homem com o cavalo.
Esta localidade manteve ao longo de muitos anos uma forte tradição tanto na organização como na participação de corridas de cavalos em canchas retas. Possuindo canchas, jóqueis, apostadores, e donos de cavalos “parelheiros” (animal rápido e veloz, destinado exclusivamente ou preferencialmente às corridas), que a cada final de semana travavam disputas emocionantes tanto na cancha reta, como na zona de “arremates”, onde eram realizadas as apostas. Porém a última “penca” (nomenclatura local utilizada para designar as corridas de cavalo em canchas retas) foi corrida no ano de 2002. Cinco animais integraram a competição que contou com bom público espectador, conforme nos conta um dos integrantes do extinto piquete local, o qual organizara a disputa. Desde então, a prática aparentemente foi deixada de lado, não ocorrendo mais nenhum evento semelhante nesta localidade.
Buscando levantar hipóteses e razões para este repentino fim das carreiras de cavalo, podemos citar: a diminuição do número de moradores da localidade e o envelhecimento dos que ali permaneceram residindo; o maior acesso à energia elétrica que permitiu ampliação na utilização de meios de comunicação e entretenimento modernos, tais como televisão, DVD e internet, servindo como lazer e passatempo; a maior facilidade de locomoção dos moradores, com melhorias no transporte rodoviário e por vezes a aquisição de automóvel próprio, fazendo com que busquem divertimento fora da localidade. Fatores estes podem contribuir para um esvaziamento do local aos finais de semana e levar a certo desinteresse em práticas esportivas e de lazer externos, como as “pencas”.
Como alguns anos se passaram desde a última “penca” ocorrida, o cenário da localidade gradativamente está sendo alterado. Houve a expansão do colégio Alcides Maia, que passou a ter ensino fundamental completo, fazendo com que crianças e adolescentes tanto da localidade como de regiões vizinhas se dirijam ao local todos os dias da semana, movimentando o povoado. Provavelmente este, entre outros motivos, levou a um aumento do número de crianças e jovens moradores da localidade, os quais parecem demonstrar interesse pelo resgate da cultura rural sul rio-grandense. Tais fatores deixam no ar a esperança do possível retorno das corridas de canchas retas, as famosas “pencas”, à localidade do Capão Seco.
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