sábado, 31 de dezembro de 2011

Causos Remangados.

O Sino.

(Zésouza)

Naquela várzea a vocação era produzir leite. Cerca de duzentas leitarias. As cinco da manhã passava o trem para levar o leite a Rio Grande; o SL ( Serviço de Leite). Estação e a venda uma perto da outra. E juntava os leiteiros a maioria rapaziada nova, lugar de gente brincalhona e eram famosas as presepadas. Chegou um telegrafista novo e já foi avisando:

- Acabou as anarquias das madrugadas...Vou botar moral na estação...

Na outra madrugada roubaram o sino. E seguiram telegramas:

- Senhor Diretor Viação Férrea, Senhor Chefe de Almoxarifado, Senhor Inspetor... ROUBARAM SINO ESTAÇAO CAPÂO SECO.

Recolocaram o sino e FOI telegrama.

-...APARCEU SINO ESTAÇÃO CAPÂO SECO.

Dois ou três dias depois e tiraram o sino, e FOI telegrama.

-...ROUBARAM SINO ESTAÇÃO CAPÃO SECO.

Recolocaram o sino e FOI telegrama.

- ...APARECEU SINO ESTAÇÂO CAPÂO SECO.

E VEIO telegrama transferindo o telegrafista para outra estação.

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sexta-feira, 16 de dezembro de 2011





Pirão do Capão Secco na Brasa.

A base é GUIZADO ( Carne moida), SALSA, CEBOLA, FARINHA DE MANDIOCA…

Receita de um “mixto”.

1/2 kg de guizado de rêz.

1/2 kg de guizado de galinha.

1/4 kg de farinha de mandioca.

2 molhes de salsa.

1 cebola.

1 maçã.

1 copo de azeitonas s/ caroço.

1 tomate.

1 pimentão.

Sal.

Corta tudo bem miudinho. Amorna um pouco de água. Faz um pirão da farinha com a água ainda morna. Mistura os temperos no guizado e mistura , bem misturado, com o pirão;faz umas bolotas ( como fosse almondega), passa na farinha de mandioca seca. Bota na grelha e assa com brasa…… Fica tribom………Ó pode usar guizado de ovelha… De porco… De rêz com toucinho…. 

Capão Secco dezembro de 2011.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

PARADA DE ONIBUS-CAPÃO SECCO

Corre o boato no povoado que a atual parada de onibus será mudada para antes do PEDAGIO. Moradores começam a ficar preocupados, pois o futuro local não tem acesso secundario… Alerta POVO REMANGADO…

CAPÃO SECCO dezembro de 2011

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sábado, 12 de novembro de 2011

O MATURRANGO.




O MATURRANGO
Numero SETE
Outubro de 2011
UM GRUPO DE AMIGOS
UNIDOS PELO LAÇO DA
TRADIÇÃO.
RODA DE MATE DOCE.
1- Capão Seco vai ter PASSARELA na rodovia... E quem pediu foi a LISARB.
2- O seu BONEVALDO vibrou com a idéia de esporear o Piquete.
3- Diz que o TIAGO tá voltando.
4- Os Patrões DUDA e RODRIGUINHO tão prontos pra ajudar o Piquete.
5- Ei e cadê o BETINHO? Sumiu?
6- PEDRO, ELTON e RENATA já tão se aprontando pro desfile do ano que vem. (GABRIEL até já tem a petiça)
7- Com essa conversa de crescimento de RIO GRANDE, sabe que ai no POVO NOVO já tão pedindo DEZ MIL REAIS por UM HECTARE de terra...
8- Tão dizendo que a PATRONAGEM será o Elton Barros e o Jonas Gularte ou Elton e Betinho.
9- JONAS é a favor da manutenção das PENCAS no Capão Seco... O artigo dele está no blog.
10- Sabe que o povoado tem um morador bom no Violão...O MATEUS.
11- As noticias do PIQUETE tão na Internet no blog.
http:/blogdocaseco.blogspot.com
CARTA DE PRINCIPIOS PARA O PIQUETE LANCEIROS DO CAPÃO SECO.
LEMA: Um Grupo de Amigos Unidos Pelo Laço da Tradição.
1- PATRONAGEM: Patrão e Secretário (Peão das Escritas.)
Patrão convoca reuniões, coordena desfiles, coordena eventos.
Secretário: Faz atas e arquiva, redige correspondências, coleciona e guarda fotos, noticias e publicações de interesse do Piquete.
Tempo de duração de GESTÃO; “PATRONAGEM”: UM ANO.
Da escolha da PATRONAGEM: Aclamação ou Voto. Na REUNIÃO DE ESCOLHA E POSSE.
“Uma PATRONAGEM pode ser reeleita”
2- DAS DESPESAS: O Piquete não tendo Tesoureiro e nem Livro Caixa. As despesas em eventos serão combinadas e divididas entre os PARTICIPANTES DO EVENTO.
3- SEDE: O Piquete não terá SEDE, sendo que reuniões e eventos (Carreteiro, Mocotó, Jogo do truco. Etc.) serão no lugar previamente combinado.
4- DAS REUNIÕES: O Patrão deve convocar a REUNIÃO DE ESCOLHA E POSSE. Deve pelo ou menos PROMOVER UM EVENTO (Roda de Mate, Almoço, Janta...) no ANO.
5- O PIQUETE DEVE SE ESFORÇAR PARA MANTER UMA TRADIÇÂO DA REGIÂO “O ENCONTRO DE CANTORES DE SANTINHO- No mês de Junho”

Capão Seco Outubro de 2011.

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terça-feira, 8 de novembro de 2011

Pencas no Capão Seco

Pencas do Capão Seco, uma tradição esquecida

(JONAS)

Capão Seco, localidade rural que tinha nas corridas de cavalo em cancha reta aos finais de semana sua prática esportiva de diversão e lazer.

O povo gaúcho trás em sua história uma relação muito forte e latente com o cavalo. Isso hoje também é evidente, em especial com o homem do campo, que utiliza seu fiel e leal amigo, o cavalo, tanto para lidas rurais, com gado e na lavoura, como para transporte ou passeio. Além de representar uma antiga paixão dos gaúchos, através das corridas de cavalo, atividade que constituíra e por vezes ainda constitui, a prática esportiva do homem rural.

Na Região do Capão Seco, uma localidade do distrito de Povo Novo, pertencente ao município de Rio Grande, encontram-se diversas propriedades rurais, onde predominam a pecuária de corte e leite bem como o cultivo de arroz. Atividades as quais movimentam os trabalhadores da região e propiciam o convívio direto do homem com o cavalo.

Esta localidade manteve ao longo de muitos anos uma forte tradição tanto na organização como na participação de corridas de cavalos em canchas retas. Possuindo canchas, jóqueis, apostadores, e donos de cavalos “parelheiros” (animal rápido e veloz, destinado exclusivamente ou preferencialmente às corridas), que a cada final de semana travavam disputas emocionantes tanto na cancha reta, como na zona de “arremates”, onde eram realizadas as apostas. Porém a última “penca” (nomenclatura local utilizada para designar as corridas de cavalo em canchas retas) foi corrida no ano de 2002. Cinco animais integraram a competição que contou com bom público espectador, conforme nos conta um dos integrantes do extinto piquete local, o qual organizara a disputa. Desde então, a prática aparentemente foi deixada de lado, não ocorrendo mais nenhum evento semelhante nesta localidade.

Buscando levantar hipóteses e razões para este repentino fim das carreiras de cavalo, podemos citar: a diminuição do número de moradores da localidade e o envelhecimento dos que ali permaneceram residindo; o maior acesso à energia elétrica que permitiu ampliação na utilização de meios de comunicação e entretenimento modernos, tais como televisão, DVD e internet, servindo como lazer e passatempo; a maior facilidade de locomoção dos moradores, com melhorias no transporte rodoviário e por vezes a aquisição de automóvel próprio, fazendo com que busquem divertimento fora da localidade. Fatores estes podem contribuir para um esvaziamento do local aos finais de semana e levar a certo desinteresse em práticas esportivas e de lazer externos, como as “pencas”.

Como alguns anos se passaram desde a última “penca” ocorrida, o cenário da localidade gradativamente está sendo alterado. Houve a expansão do colégio Alcides Maia, que passou a ter ensino fundamental completo, fazendo com que crianças e adolescentes tanto da localidade como de regiões vizinhas se dirijam ao local todos os dias da semana, movimentando o povoado. Provavelmente este, entre outros motivos, levou a um aumento do número de crianças e jovens moradores da localidade, os quais parecem demonstrar interesse pelo resgate da cultura rural sul rio-grandense. Tais fatores deixam no ar a esperança do possível retorno das corridas de canchas retas, as famosas “pencas”, à localidade do Capão Seco.

domingo, 30 de outubro de 2011

Causos de Remangados.

     Canjica

      Entre1961 e 1962 foi feita a ligação da rodovia com a ponte sobre o São Gonçalo,( a primeira, aquela que depois virou monumento ao eng. Desconhecido ) O acampamento da construtora ficava bem defronte a estação e tinha a cozinha e refeitório sendo a cozinheira uma negra magra, alta e muito braba. Seguido tava discutindo com algum dos funcionários. Pois aconteceu que a construtora andava mal de dinheiro e começaram a faltar gêneros na cozinha. A cozinheira pedia ao engenheiro mas este só mandava explicações. Acabou o café. De manhã eram mais de cinqüenta homens loucos de fome. A cozinheira conseguiu canjica e ai todos os dias era só canjica. Uma manhã um motorista para protestar e fazer graça aos companheiros se parou na volta da mesa a relinchar e dando pinotes e coices. A cozinheira parou na porta da cozinha com as mãos na cintura e atrevida perguntou:

     - Que foi Tá ficando maluco...

       Ele explicou:

     - Eu não sou cavalo pra comer milho...

       Ela interrompeu e respondeu pra risada de toda a turma:

     - Pode comer, que égua também come...

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Piquete Lanceiros do Capão Seco

         O MATURRANGO
          Numero SEIS
          Setembro de 2011 
          Capão Seco - Rio Grande – RS

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     Um grupo está disposto a esporear o Piquete; que já tem DEZ anos e não pode esquecer a sua própria história e a luta dos seus pioneiros. Além disso, defendem que o CAPÃO SECO terra de lendas e histórias TEM que ter seu grupo de amigos entre si e amigos da tradição, ou seja, UM GRUPO DE AMIGOS UNIDOS PELO LAÇO DA TRADIÇÃO...
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                   Dez Anos.
     O primeiro nome era Piquete Potro Sem Dono, mas teve que trocar porque tem outro piquete com este nome e filiado ao CTG RAFAEL PINTO BANDEIRA.
      Uma pergunta: E aquele terreno do CTG Souza Netto???
       A última PENCA DE CORREDOR no Capão Seco foi em 2002 e foi organizada pelo Piquete.
As pencas de corredor uma tradição do Capão Seco aconteciam principalmente ao clarear do dia que era a hora do TREM do LEITE ( o SL) que nessa hora juntava muitos leiteiros na estação... Teve até um acidente; dois cavalos correndo e um PECHOU numa carroça e enfiou o varal no peito.
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            Peleia.
      Pois se juntou com o pessoal do Piquete Lanceiros do Capão Seco uma turma que o ZÉ me explicou:
      - Bamos buscar o fogo que se chama; chama crioula...
      E tão tomando marafatinga e proseando e conversa vai, marafatinga vem... E tal e coisa e coisa e tal... E aqui é a terra do Souza Netto... E a Guerra dos Farrapos até podia continuar... Já que tamos aqui quem sabe a gente começa... E um tirou o tal de notebuqui da mala de garupa e já mandou um tal de chasque eletrônico pra dona DILMA:
      Vizinha tamos desafiando o Brasil pra peleia dos Farrapos... Tamos aqui numa conta certa de mais ou menos quase oitenta gaúchos cortando taquaras pra fazer lança e afiando adagas pra peleia.
      A mensagem foi e dona DILMA mandou a resposta:
      Topo... Mandei abastecer aviões, tanques e navios... Tenho dois mil pilotos, três mil pára-quedistas, cinco mil marinheiros e dez mil soldados prontos pra luta.
      Ora o ZÉ que é de gente que pensa rápido e tem a resposta na ponta da língua já gritou:
     - Nããããõooo... Desistimos... Não temos lugar adonde botá tanto prisioneiro...
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segunda-feira, 26 de setembro de 2011

CAUSOS DE REMANGADOS

A dupra

    Por volta de 1960 apareceram ali no Capão Seco, para trabalharem na granja um negro alto e forte apelidado de Querosene e um ruivo magro e baixo apelidado Polaco. Passavam mais tempo na venda, jogando o osso, bebendo cachaça, que mesmo trabalhando, que na verdade eles trabalhavam por empreitadas. Pois estes dois se intitulavam a Dupra, uma vez que um torcia para o Grêmio Esportivo Brasil de Pelotas e outro para o Esporte Clube Pelotas, ou como diziam os locutores esportivos a dupla Bra-Pel. E foi num Domingo de clássico Bra-Pel que os dois foram ao jogo, depois do jogo, a tardinha, foram para a estação para pegar o trem. Lá pela volta da estação ficaram nos bares bebendo. Bêbados perderam o trem, quiseram dormir na estação, mas um guarda os correu. Atravessaram os trilhos e foram para a igreja do “ Bairro Simões Lopes” , igreja de Nossa Senhora Aparecida que na época era conhecida como a ‘ igreja do Padre Ozi’ . Viram que a porta da sacristia estava aberta. De madrugada o Padre Ozi acordou e escutou barulho na sacristia e foi espiar. A ‘dupra’ sentada no chão tomando vinho ( da missa ) e comendo hóstia . O Querosene com a boca cheia de hóstias reclamando:

    - O vinho é bom, mas as bolachinhas grudam na boca...

terça-feira, 20 de setembro de 2011

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Capão Secco

 

Ó mar salgado, quanto do teu sal

São lagrimas de Portugal..

( FERNANDO PESSOA)

1494.

Em 1494, com a interferência do papa Alexandre VI, as coroas católicas de Portugal e da Espanha haviam assinado o tratado de Tordesilhas. O contrato estabeleceu uma divisão reta do pólo Norte ao pólo Sul, a qual deveria passar a 370 léguas ao poente das ilhas de Cabo Verde. Dividia-se o mundo, assim, entre as duas coroas ibéricas. Porém, o acordo não tratava da equivalência entre léguas e graus nem fixava o local do arquipélago de Cabo Verde por onde começaria a contagem.

Segundo a visão espanhola, o meridiano diplomático atravessaria as atuais cidades de Belém, à margem direita da foz do rio Amazonas, no Pará, e Laguna, em Santa Catarina. No outro ponto de vista, a divisão recaía na outra margem do Amazonas e seguia até a Patagônia. Em ambas as maneiras de ver, o controle do Atlântico Sul e o domínio dos litorais da África e da América ficavam com Portugal. À Espanha cabia a navegação menos intensa, no oceano Pacífico.

1492.

Cristovam Colombo a serviço da Espanha chega a terras desconhecidas a que chamou de NOVO MUNDO.

1500.

Pedro Álvares Cabral a serviço de Portugal comandando uma esquadra em viagem para a Índia afastou-se das costas da África e chegaram às costas do NOVO MUNDO.

1500 a 1537.

Nas três primeiras décadas do século XVI, os portugueses enviaram pelo menos seis expedições marítimas à região do Prata. Foram em 1501, 1503, 1506, 1513, 1521 e 1530.

As espanholas, posteriores e em menor número, foram realizadas em1520, 1525, 1526 e 1534. A primeira expedição foi comandada por André Gonçalves. Trazia o cosmógrafo Florentino ( natural da cidade de Florença) Américo Vespúcio. Conseqüentemente, a primeira expedição marítima já tinha a finalidade de fazer levantamentos.

Em 1512, o rio da Prata foi reconhecido pelos lusitanos. Os cartógrafos portugueses passaram a elaborar mapas do mundo que incluíam o rio da Prata dentro dos domínios coloniais lusos.

O rio Amazonas e o rio da Prata eram as únicas entradas fluviais ao continente sul-americano.

O RIO DA PRATA permitia o acesso à prata das minas de Potosi (cidade na cordilheira dos Andes na BOLIVIA.). Era o lugar; onde portugueses, ingleses, comerciantes, contrabandistas de produtos manufaturados, traficantes de escravos e/ou bucaneiros (piratas) rompiam o monopólio comercial espanhol.

Em 1536, para se defenderem dessa situação, os espanhóis fundaram BUENOS AIRES, na margem direita da foz do rio da Prata.

Em 1537, assentaram ASSUNÇÃO.

1626.

JESUITAS espanhóis fundaram as MISSÕES a margem esquerda do RIO URUGUAI, para catequizarem os INDIOS TAPES que já habitavam a região.

1634.

Os JESUITAS trazem gado para as MISSÕES, as margens do RIO URUGUAI.

1640.

Os BANDEIRANTES atacam as MISSÕES para aprisionar e levar os índios para serem escravos nas lavouras de CANA de AÇUCAR.

Os JESUITAS abandonam as MISSÕES da margem esquerda do RIO URUGUAI.

O GADO das MISSÔES se esparrama e vai viver solto nos PAMPAS UMIDOS (ricos em água e pasto). Esse GADO se reproduz no imenso deserto verde. Parte desse gado desce para o SUL onde chamaram a VACARIA DO MAR (hoje é o URUGUAI), esse vai movimentar COLONIA DO SACRAMENTO (40 anos depois).

Outra PARTE desse GADO ficou na parte onde hoje é a chamada CAMPANHA e as MISSÕES no Rio Grande do Sul e esse gado que vai movimentar o POLO CHARQUEADOR DE PELOTAS (140 anos depois).

Era tanto GADO que os “Pioneiros” nem se preocupavam em ganhar terra... Registravam a MARCA e saiam a caçar boi... Parava rodeio, marcava... Imagina quanta confusão...

1676.

Os portugueses fundaram a vila de LAGUNA.

1680.

Os portugueses fundaram a vila de COLONIA DO SACRAMENTO, a margem esquerda do RIO DA PRATA, defronte a BUENOS AIRES.

A fundação de COLONIA DO SACRAMENTO visava a exploração de gado sem dono, pra tirar o COURO a carne ficava no meio do campo.

1700.

Com o crescimento da exploração de ouro e pedras preciosas nas MINAS GERAIS, surgiu a necessidade de animais para o transporte de mercadorias e gente.

A MULA ou o BURRO animal que vem do cruzamento de JUMENTO com ÉGUA, é um animal robusto e se presta muito pra carregar carga no lombo. No RIO DA PRATA havia MULAS criadas pra serem usadas nas minas de POTOSI e outras minas nos ANDES.

A necessidade de GADO pra fornecer carne.

Rincão Bravo

Rio Grande- 1749 - Rio Grande.

Rincão Bravo,Passo das Pedras,Povo Novo,

Torotama.

Porto Alegre-1752 - Porto de Viamão

São Francisco dos Casais da Madre de Deus

Porto dos Casais.

Estância de Itapuã,Ilhas as margens,

Vila Real de Santa Ana /Santa Ana do Morro

Grande

Rio Pardo - 1755 - Rio Pardo.

Campo Grande,Cavalhada,Irapuã,Galhos de

Irapuã,Serro de Irapuã,Pequeri,Ponta do Pequeri.

Rincão do Arraial das MELANCIAS

Pepinos do Rincão das ALEGRIAS,

Rincão Bravo das GURIAS

1703.

Inicia o reconhecimento para fazer uma estrada para trazer TROPAS de COLONIA DO SACRAMENTO para LAGUNA e de LAGUNA para o PLANALTO PAULISTA em SOROCABA.

Entre a Colônia do Sacramento e Laguna, ficava uma terra ainda não explorada pelas potências ibéricas.

“Era 1703. [...] é quando parte de Colônia Domingos Filguera, para

estabelecer o roteiro que seria a ligação por terra com o Brasil, acabando

com a perigosa dependência marítima.............................................................

...........................................................................................................................percorre em quatro meses o caminho que ficou conhecido como o Caminhoda Praia, da Colônia até Laguna.

Começa ai o elemento de origem européia a desbravar o SUL da LAGOA DOS PATOS.

TROPEIROS de COLONIA e de LAGUNA começam a usar este caminho. Criam se ARAIAIS onde fazem “Roças” para produzir mandioca, favas, couves, feijões e frutas para fornecer comida aos tropeiros. Fazem currais para descanço das tropas.

A ESTRADA DA PRAIA em principio atravessava a LAGOA la na BARRA que naquele tempo era rasa e tinha muitos bancos da areia. Depois a travesia passou a ser da BARRANCA do PESQUEIRO até a ILHA DA TOROTAMA e da ilha para o ESTREITO. ( Chamava-se ESTREITO a faixa de terra entre a LAGOA DOS PATOS e o OCEANO). E ai passa a fazer ponto de apoio ( até pra o descanso das tropas antes da travessia) o ARAIAL do POVO NOVO que também é citado em alguns anotamentos como o POVO NOVO DA TOROTAMA.

A travessia pela TOROTAMA era mais facil, o caminho pra chegar la na barra era mais dificil. Na região da ilha os indios que viviam as margens do SANGRADOURO DA MIRIM ( Hoje é o São Gonçalo) conheciam os pontos de travessia e ajudavam com suas canoas feitas de couro as PELOTAS.

Com o povoamento os lugares da região foram recebendo denominações.

As ILHAS; dos Marinheiros, da Torotama, do Marçal de Lima (Leonidio)

Os ALBARDÕES; do Apolinário, da Joana Maria...

Os RINCÕES; do Guamás, do Arraial, das Alegrias, dos Quartéis, das Pelotas, BRAVO...

** Depois de 1800 este caminho entre COLONIA e LAGUNA é praticamente abandonado PELAS TROPAS DE MULAS, que passou a ser pelo centro do ESTADO, de SÃO BORJA A CRUZ ALTA e de CRUZ ALTA A VACARIA e daí pegava o Planalto Catarinense rumo a SOROCABA...***

1716.

Portugal manda 60 Casais da região portuguesa de Trás Os Montes ( gente que entendia de agricultura) para povoar COLONIA.

1726.

Os espanhóis fundam MONTEVIDÉO proximo a COLONIA.

1735.

Os espanhóis sitiam COLONIA e tentam destruir. Os portugueses resistem e o cerco dura dois anos. Muitas famílias abandonam COLONIA e vem se estabelecer no sul da LAGOA DOS PATOS (Região do TAIM, POVO NOVO, TOROTAMA, RINCÃO BRAVO e ESTREITO).

1737.

O brigadeiro JOSÉ da SILVA PAES tem a missão de fundar o Presídio de JESUS MARIA e JOSÉ. Deu origem a cidade do RIO GRANDE.

O RIO GRANDE DE SÃO PEDRO PASSA A SER UMA COMANDANCIA subordinada a Capitania de Santa Catarina.

1752.

O ano de 1752 é o referencial cronológico que assinala o desencadear da imigração açoriana para o Rio Grande do Sul, a partir de sua chegada ao porto do Rio Grande de São Pedro. Em anos anteriores, açorianos já desembarcaram no cais da então Vila do Rio Grande, (muitos desses casais açorianos se estabeleceram no POVO NOVO e seus Rincões).

Porém a política dos casais se configurou em 1752 com a chegada de grande numero de ilhéus. E começou o assentamento desses casais no ESTREITO (Capela da Conceição do Estreito, Capão do Meio, São Luiz das Mostardas, Capela do Viamão,) no PORTO DOS CASAIS, SANTO AMARO e RIO PARDO.

1760.

RIO GRANDE passa a categoria de CAPITANIA com um GOVERNADOR, sendo a sede a Vila de São Pedro...

Primeiro GOVERNADOR: Eloi Madureira.

1763.

A GUERRA

Os ESPANHÓIS de Buenos Aires tomam COLONIA e SÃO PEDRO DO RIO GRANDE. Pânico na Vila, correria, duvida medo. Do POVO NOVO, da TOROTAMA, do RINCÃO BRAVO muita gente passou para o outro lado do SANGRADOURO DA MIRIM (São Gonçalo) e foi se esconder e acabaram ficando no RINCÃO DAS PELOTAS.

O RINCÃO DAS PELOTAS tinha próximo ao SÃO GONÇALO os banhados e depois muitos matos e a serras o que facilitou as famílias se esconderem.

Na VILA DE SÃO PEDRO muita confusão, brigas, saques. Muita gente fugiu para o ESTREITO... O GOVERNADOR também fugiu... A CAPITAL se muda para a CAPELA DO VIAMÃO.

O Exercito Espanhol ocupou até o RINCÃO BRAVO, ou seja, não atravessou o São Gonçalo.

1767.

A primeira tentativa de expulsar os espanhóis... Falhou... Os portugueses foram derrotados.

1776.

O EXERCITO PORTUGUES expulsou os invasores (ESPANHÓIS) terminando com 13 anos de ocupação.

Ai começou a reorganização do RIO GRANDE.

RIO GRANDE foi dividido em cinco distritos

Distrito da VILA DE SÃO PEDRO (Rio Grande).

Distrito do POVO NOVO.

Distrito do CERRO PELADO.

Distrito do ESTREITO.

Distrito de MOSTARDAS.

Começa a organizar a DISTRIBUIÇÃO das TERRAS dos DISTRITOS.

1777.

Pelo TRATADO DE SANTO ILDELFONSO, portugueses e espanhóis fazem o acerto das fronteiras.

É feito o primeiro MAPA da Região.

1780.

No RINCÃO DAS PELOTAS, começa a INDÚSTRIA DO XARQUE.

Enquanto no RINCÃO DAS PELOTAS se desenvolvia a indústria do charque o RINCÃO BRAVO desenvolvia a atividade leiteira.

Pelotas começa a progredir e o Rincão Bravo que ficava longe de tudo fica com tudo perto.

A melhor ligação entre o Rincão Bravo e Pelotas era de canoa usando o ARROIO do PASSO MAL. Pelo Passo Mal levavam o leite e traziam mercadorias. No alto da barranca defronte o Capão Grande teve uma grande casa de comércio, que abastecia não só o Rincão Bravo como os rincões próximos. Então o primeiro núcleo do Rincão se desenvolveu próximo ao PASSO MAL. Os MENDES tinham residências a margem dele desde a nascente até onde HOJE (2011) é a residência do DORVALINO MENDES, no Capão Grande. Os SOUZAS

tinham a residência na ponta Norte do Capão Grande, divisa com os Mendes.

PELOTAS foi crescendo e foi aumentando o consumo do LEITE e novas leitarias se instalaram ao longo da barranca. (E se espalharam para os rincões próximos; dos Quartéis, Guamás, das Alegrias...) Ai em vez de o LEITE ser levado em canoa era levado no lombo de cavalos, ( Até pouco tempo existia as chamadas LATAS DE GARUPA)

O condutor (LEITEIRO) viajava montado e levava a cabresto entre seis a dez cavalos com as latas na garupa (duas latas em cada cavalo, cada lata levava cerca de 30 litros.)

Chamavam os que tiravam o LEITE de “Mangueiristas ou tambeiros” e os que transportavam e vendiam de “LEITEIROS”.

Então diariamente os LEITEIROS viajavam de Pelotas ao Rincão Bravo. Levavam o LEITE, traziam os jornais, recados, bilhetes pequenos volumes.

O LEITE era tirado pela manhã e a tarde os leiteiros levavam para PELOTAS.

Neste período o RINCÃO BRAVO começou a ser mais povoado e a ser conhecido pelos seus vários pontos; Capão do Umbu, Capão do Rodeio, Capão da Batinga, Passo Mal, Capão Grande, CAPÃO SECO.

CAPÃO SECCO

Para não andarem por dentro da várzea (banhado) os LEITEIROS seguiam pela beira da barranca até o Capão do Rodeio e ali atravessavam um pouco de banhado até a foz do PASSO MAL (ali perto da PONTE), dali seguiam de canoas até a SANGA DOS LEITEIROS em PELOTAS ( esta sanga ficava mais ou menos onde hoje inicia a RUA SANTA CRUZ).

Vinham costeando a barranca até o CAPÃO SECO onde o caminho se dividia em três:

Um caminho seguia para o lado da LAGOA, subindo a barranca ali nas nascentes do PASSO MAL e indo para o Rincão dos Quartéis, Guamás, Alegrias, Torotama e Arraial.

Outro caminho ao rumo dos Matos da Costa do São Gonçalo e rumava para a Roça Velha a Palma e seguia para os Campos Neutrais (TAIM, CURRAL ALTO, SANTA VITORIA DO PALMAR DE LEMOS)

E o Caminho do POVO NOVO, que seguia por onde hoje é a Estrada de Ferro.

Tinha outro caminho o CAMINHO DA BARRA FALSA, passava a LESTE do Rincão Bravo (lá nas areias) e atravessava o banhado até o PASSO DOS NEGROS. Era um caminho difícil por causa do banhado.

Por esse caminho traziam os grupos de ESCRAVOS que desciam no porto do RIO GRANDE, para vender em PELOTAS.

Por esse caminho o BARÃO DE CAXIAS passou com mais de cinco mil cavalos arrebanhados no RINCÃO DOS TOUROS para usar na CAVALARIA do IMPÈRIO na GUERRA DOS FARRAPOS

O caminho usado era o da beira da barranca e o ponto de encontro dos LEITEIROS era o CAPÃO SECO.

De 1874 a 1884 foi construída a ESTRADA DE FERRO entre RIO GRANDE e BAGÉ. Nos NOVE quilômetros de BANHADO entre o Capão Seco e a ponte do São Gonçalo foi feito um aterro. Feito com carroças e cavado a pá e picaretas. Daí a necessidade de ter muitos trabalhadores. Fez-se um grande acampamento no Capão Seco. Ai já surge uma VENDA próximo aos trilhos.

Naquele tempo chamavam o Trem de VAPOR DE TERRA. O Vapor de Terra começou a passar em 1884.

Em 1889 que foi um ano de grandes tormentas, muita chuva e enchentes na região, uma grande parte do aterro da ferrovia foi destruída. Novamente se formou um grande acampamento de obra.

No Capão Seco a estrada de ferro construiu uma Parada (PARADA CAPÃO SECCO,”COM DOIS C”) e instalou uma turma de conservação permanente. Em 1917 a Parada foi elevada a categoria de Estação. Foi neste ano que plantaram o EUCALIPTO GRANDE que ainda existe hoje (2011)

Com serviço de trens de passageiros de transporte de mercadorias, serviço de correios e telégrafos: a Parada e depois a Estação (em 1917 a PARADA CAPÃO SECCO É ELEVADA A CATEGORIA DE ESTAÇÂO, ai o antigo prédio de madeira foi substituído por um prédio de material com escritório, residência do agente e depósito) passa a ser o ponto de referencia da região.

Com a instalação da administração da Ferrovia, das oficinas e deposito de locomotiva, com o aumento do Porto e a construção de novas Indústrias na cidade do RIO GRANDE, aumentou a população da cidade e a necessidade de abastecimento de LEITE. O LEITE produzido no CAPÃO SECO, POVO NOVO e PALMA (depois DOMINGOS PETROLINE) e levado para RIO GRANDE num trem de freqüência diária o “S.L.” ( Serviço de Leite). Este trem saia de Pelotas as quinze para as seis no inverno e as quinze para as cinco no verão. A atividade das leitarias passou a ser pela MADRUGADA, dependendo do tamanho da leitaria; tinha leitarias que começavam a tirar o leite à uma hora da madrugada.

** PELOTAS não ficou sem abastecimento de LEITE, é que muitas leitarias já estavam instaladas principalmente no Fragata e Areal. Muita

gente do Rincão Bravo-Capão Seco foi para o outro lado do São Gonçalo montar leitarias.**

A grande maioria das propriedades tinha a Chácara onde cultivam laranjeiras, limoeiros, bergamoteiras, amoreiras, pessegueiros, pereiras e marmeleiros (a plantação de MARMELEIROS era grande na região e No inicio do Século XX as cinzas de um vulcão do CHILE chegaram aqui e mataram os marmeleiros). Não esquecendo as parreiras cujas uvas serviam para fazer o “AGUAPÉ; um vinho aguado.

Alem das hortas de cebola tinha os cercados para o MILHO (era costume produzir junto com o milho ABOBORA MOGANGO e FEIJÃO MIUDO) que era usado para alimentar porcos e aves e tinha a chamada “HORTA DA CASA” que produzia verduras e temperos.

De 1940 até 1950 a EUROPA enfrentou a segunda grande guerra e as suas conseqüências. Neste período o FRIGORIFICO SWIFT (Americano) em RIO GRANDE estimulou a produção e comprava para fazer conservas de TOMATES e ERVILHAS. A região foi grande produtora o que acrescentou mais rendas as propriedades.

Entre 1940 a 1943 iniciaram a construção da Rodovia PELOTAS-RIO GRANDE e um acampamento do DAER se instalou no CAPÃO SECO. (Muitas famílias vieram para o lugar)

Entre 1943 e 1945 (Não sei o ano exato) o CAPÂO SECO ganhou seu Colégio; ESCOLA ALCIDES MAIA.

Entre 1940 a 1970 o CAPÃO SECO foi um povoado de muito movimento: tanto econômico como social. Quase duzentas leitarias, uma venda (armazém) forte, a vila do DAER, a vila da Granja ( com uma cantina muito sortida), e a vila dos Ferroviários.

Teve clubes de futebol: Avante Futebol Clube, Daer Futebol Clube, Capão Seco Futebol Clube e o Primavera Esporte Clube.

Os bailes que eram feitos no Colégio.

A Cancha de Carreiras dos Eucaliptos.

** As PENCAS ou carreiras de cavalos foi esporte muito praticado desde os tempos do RINCÃO BRAVO. A cancha mais famosa e

movimentada foi ainda no século XIX; a CANCHA DO CAPÃO DO RODEIO; acontecia carpetas para jogos de baralho, cancha de jogo do osso e até baile de ramada... **

As PENCAS NO CORREDOR eram corridas feitas de improviso:

De madrugada na hora do SL se desafiavam e ia para o corredor correr.

Muitos guris vinham para o COLÉGIO montados em petiços, desafiavam-se e na hora do recreio (pra desespero das professoras) ia para o corredor correr

As vezes nos domingos inventavam uma penquinha pra passar o tempo...

As festas de Junho (São Pedro, São João e Santo Antonio), com fogueiras e os Ternos de Santinhos:

Chegamos em vossa casa

No meio do seu terreiro,

Pra tocar e cantar,

Licença peço primeiro.

Licença peço primeiro

Com prazer e alegria.

Festejamos a São João

No seu verdadeiro dia...

A que notar que a vida- social era mais intensa no OUTONO E INVERNO, que Primavera e Verão eram o tempo de muito serviço: preparar terras, plantar, ajeitar cercas, colher (a CEBOLA e o MILHO colhiam no inicio do verão).

As casas tinham um ou mais QUARTO de HOSPEDES, então amigos ou parentes vinham visitar e a visita durava alguns dias. Também nos galpões tinha os quartos pros solteiros que visitavam ou vinham trabalhar.

No INVERNO as “Visitas de Ajuda”: Ajudavam a consertar arreios, ferramentas, fazer balaios etc.

Só depois de 07 de julho de 1962 ( inaugurada a primeira ponte rodoviária no São Gonçalo), é que a rodovia passou a ter movimento a noite ( a BALSA funcionava só de seis da manhã a oito da noite) então aqui de noite só se ouvia ou o assobio do vento ou o canto triste dos sapos e era bom ter visita em casa pra gente conversar, comer pipoca, jogar baralho. Ó a gente se reunia era na cozinha que SALA tinha pouca casa que possuía.

Já em maio a FESTA DO DISTRITO, que era a festa da IGREJA DO POVO NOVO. ( Concorrida desde o fim do século XIX a meados do século XX).

No POVO NOVO faziam as “CAVALHADAS” entre mouros e cristãos.

Fim de outono as “Marcações” de gado um serviço, mas com clima de festa (juntava os vizinhos e amigos para ajudar); laça, piala, corre, para rodeio, churrasco... E a GINETEADA de NOVILHO, montava virado para trás e segurava na cola.

“MATÁ” porco juntava a vizinhança pra ajudar. Tinha muita gente que quando matava poro assava a cabeça botava numa bandeja, enfeitava com rodelas de tomate e limão e rifava. RIFA DA CABEÇA DE PORCO. (vendia cada numero por um precinho de nada, não visava lucro era mais uma forma de sortear um presente...)

Convidar os vizinhos pra tomar MOCOTÓ.

Costumava juntar vizinhos e amigos pra oração do TERÇO isto pra pagar alguma promessa, agradecer uma graça alcançada...

Domingos de frio e garoa juntava a vizinhança pra jogar VISPORA (Bingo) e comer bolo frito.

Também reunião pra o JOGO da PRENDA...

Jogo de BARALHO, Jogo do Solo (no tempo do Rincão Bravo), jogo do truco ou jogo de escova. As crianças jogavam o ROBA MONTE ou o BURRO TISNADO.

Todas as tardes muitos homens se reuniam na VENDA pra conversar, tomar aperitivo e JOGAR O OSSO.

As BRINCADEIRAS:

As GURIAS brincavam com bonecas, pulavam corda, pulavam sapata ( amarelinha), passa-passará, gata cega.

Os guris; jogo da bolinha de unha, soltar pandorga, correr com arquinho, de esconder, jogo de bola, (já perto de 1970 surgiu aqui o JOGO DO TACO).

OS TRENS:

Lugar de beira trilho- estação- o TREM faz parte da sua história.

O trecho RIO GRANDE – PELOTAS era um trecho bem servido de trens de passageiros num tempo em que as conduções eram difíceis. Três trens, diários, no sentido Rio Grande Pelotas ( Trem das Nove “esse ia para BAGÉ”, Trem da Uma, Trem das Seis) e três no sentido Pelotas Rio Grande ( Trem das Oito, Trem das Três “ vinha de BAGÉ” e Trem das Cinco ).

O TREM DAS OITO trazia os jornais e o gelo pra VENDA. A gente tomava refresco de limão ou de groselha gelado.

O TREM DA UMA passava no Capão Seco à uma hora da tarde para PELOTAS e voltava as CINCO. No TREM DA UMA se ia “Cidade” fazer compras, consultar, ao médico... Voltava no TREM DAS CINCO. Nestas horas o entorno da estação ficava cheio de carroças, faitons, charretes e cavalos encilhados. (Nota que a VENDA era ao lado da ESTAÇÃO e o COLÉGIO do outro lado)

Os trens tinham o REVISTEIRO, que vendia jornais, bilhetes de loteria e revistas. A gente era guri comprava GIBIS.

Nos DOMINGOS as sete da noite passavam dois trens de passageiros, o EXCURSÂO que vinha de OLIMPO ( Hoje é Pedro Osorio) para Rio Grande e o de Rio Grande para Olimpo. Então no VERÃO era o passeio do fim do domingo ir a estação ver os trens, aliás, juntava muita gente principalmente em dia de pencas ou de jogo de futebol.

** E tinha o SL de madrugada que era a hora que juntava os leiteiros na estação.**

AS CORRIDAS DE CARROÇAS.

Geralmente faziam na hora do SL, às vezes na hora do trem das cinco. Organizada só teve duas ou três.

REMANGADOS.

Os corredores para chegar à ESTAÇÂO não eram aterrados e juntavam muita água em alguns pontos, então quem ia viajar trazia os sapatos na mão e vinha REMANGADO. Até o pessoal das leitarias, o calçado era o TAMANCO e as bombachas REMANGADAS. Daí os passageiros dos trens e principalmente os “caxeiros viajantes” apelidaram a Estação dos REMANGADOS.

AS COMIDAS:

Terra fértil de boa umidade, terra de farturas. Muito leite, muita verdura, muita fruta, muita caça, muito peixe.

Gente que dava muito valor a verdura; couve, repolho, mostarda, folha de nabo, alface... Fava, ervilha, batata-doce, nabo... Lugar de muita sopa...

FEIJÃO MIUDO com carne a abobora. Feijão preto com carne e milho verde (comida do Capão Seco)

A caça; o MARRECÃO em primeiro lugar, marreca, (o arroz com marreca seja de caça ou doméstica era muito usado), perdiz e do RATÃO DO BANHADO vendiam o couro e comiam a carne.

** A fartura de marrecas era tanta que tinha muita gente que possuía um CAVALO GATEADOR, era um cavalo manso e treinado pra que o caçador meio agachado seguia a seu lado por dentro do banhado até chegar junto ao bando de marrecas.**

Do LEITE o doce, o queijo, a manteiga e a ambrosia o MINGAU. E o pastel de mingau. Faziam PASTEL DE MINGAU pra vender para os passageiros dos trens. Bolo de coalhada, canjica com leite, mogango com leite, as rapadurinhas de leite.

Doce era feito no tacho grande; de abobora, de pêra, de batata-doce.

CHURRASCO carne de rês, ovelha e pra acompanhar O SARRABULHO...

DE 1970 a 2001.

Ai começou a decair a parar.

O acampamento do DAER foi embora.

A granja de arroz foi se mecanizando e diminuiu muito, mas muito mesmo, a mão de obra. No inicio eram quarenta famílias ( a vila tinha 38 ranchos, uma casa de madeira e uma casa de material, oficinas, dois galpões de armazenar, uma cantina) e mais o pessoal contratado para a safra. Hoje; dez (10) contratados na safra.

Muita exigência para o comercio de LEITE o preço ao PRODUTOR caiu muito. Muita gente abandonou a atividade.

O LEITE PASSOU a ser carregado em caminhão tanque e as leitarias passaram a ter RESFRIADOR.

A decadência da Estrada de Ferro...

Foi “COJITADO” terminar com o COLÉGIO.

Uma coisa boa: a ELETRIFICAÇÂO RURAL.

Outra coisa muito boa: a nova política do transporte de alunos a MANUTENÇÃO e AMPLIAÇÂO do C O L É G I O.

O asfaltamento da Rodovia RIO-BAHIA facilitou a chegada da CEBOLA do VALE DO SÃO FRANCISCO ( duas safras por ano, menos trabalho de terra. Menos capina e mão de obra mais barata) ao MERCADO PAULISTA e prejudicou o comércio da CEBOLA do SUL.

Na CABANA DA MARA aos domingos promovia jogos de futebol de sete e as vezes PENCAS NO CORREDOR.

Teve o PIQUETE TRADICIONALISTA “QUEBRA QUEIXO” que esse representou muito bem o povoado em desfiles e rodeios.

2001 a 2011

Dia 20 de março de 2001 o pedágio do CAPÃO SECO começou a funcionar. ( Pelo menos o POVOADO passou a contar com a ambulância do pedágio)

Até teve um movimento social com a fundação de um PIQUETE tradicionalista: PIQUETE LANCEIROS DO CAPÃO SECO, que até promoveu alguns rodeios.

Em 2002 o Piquete promoveu a ultima PENCA DE CORREDOR.

A atividade leiteira ficou facilitada com a utilização de ORDENHADEIRAS. O uso de RESFRIADOR facilitou tirar o leite de tarde. O caminhão passou a recolher o leite nas leitarias.

Em 2011 apenas SEIS leitarias...

De tudo um pouco, um pouco de tudo, não to escrevendo a HISTÓRIA, só contando um pouco do que LI e VI e OUVI... Meu pai Laudares Lannes de Souza, (foi o melhor tirador de leite do Capão Seco, tirava dos quatro tetos no mesmo instante, de 45 vacas ele tirava 550 litros em 2 horas), pois o pai me contava muita coisa...

Meu pai sabia muita coisa que um tio dele; Honório Tibiriçá da Silva (fazia o melhor queijo da região e marcava com o ferro de marcar gado, a ESTRELA, o queijo mais procurado no Mercado de Pelotas)... A história da CAVERA DO BURRO ele dizia:

- Capão Seco não progride porque tem CAVERA de burro enterrada...

Na época da construção da ferrovia, muitas carroças puxadas a burro... Um burro começou a empacar o GRINGO que era capataz deu um soco na cabeça do burro, matou... Foi enterrado naquele matinho que tem perto de onde hoje é o PEDÁGIO...

Escutei muita coisa do Seu SANTANA, (entre 1950 a 1955) ele tinha o costume de no “tempo do araçá” vinha visitar o meu pai e trazia um balaio de araçás... A gente passava uma semana comendo araçás... Ele contava muita coisa dos tempos dos LEITEIROS, dos tempos da GUERRA GRANDE (a dos Farrapos).

Seu ANIBAL ABREU e o seu EDMAR COSTA (esse gostava muito de ler) também me contavam muitas coisas...

OS INDIOS.

Os vários SAMBAQUIS, “CIMITÉRIOS DE INDIOS” (aqui chamados de MORRINHOS) atestam que há muitos anos a região foi povoada por INDIOS.

Na BARRA FALSA teve um morrinho que uma fabrica de adubo de PELOTAS escavou para levar ossos para fazer adubo. Parou porque teve denuncia.

Na ponta norte de Capão Grande tinha um morrinho que foi usado para plantar milho.

Até o tempo da GUERRA DOS FARRAPOS no CAPÃO DO UMBU teve um acampamento grande de índios, chamavam Toldo de Índios.

Deixaram-nos a mandioca e seus produtos a farinha, a tapioca. O pirão de carne, de peixe, de verduras foi muito usado no Rincão Bravo. Até os primeiros anos do Século vinte aqui se comia BEIJU de tapioca. O chimarrão e as boleadeiras.

E os índios tinham muito RESPEITO pela natureza. Sabiam amansar ganhar a confiança sem maltratar e eram amigos do CAVALO.

Até mais ou menos mil novecentos e cinqüenta e cinco ainda se encontrava alguém com fortes traços de índios. Conheci dois, eram irmãos, um era muito arredio o outro vivia um tempo aqui, outro ali. Dormia nos galpões, ajudava a capinar pátios, fazia lenha. Era um homem triste,(falava pouco), não tinha barba, gostava muito de fazer flautas de BAMBU e à tardinha agachava num canto e tocava a flauta.

E ajudaram muito os primeiros europeus que aqui chegaram, eles já conheciam a região, tinham as canoas feitas de couro (as pelotas), já tinham cavalos e eram ágeis caçadores de gado.

Convivendo índios e europeus e africanos é claro que teve casamentos. Muitas famílias do RINCÃO BRAVO tinham o sangue de índio e de africano.

OS AÇORIANOS.

Para povoar o SUL o Governo de PORTUGAL estimulou a transferência de famílias do Arquipélago dos AÇORES.

** Vieram também das ILHAS DA MADEIRA**

Em 31 de agosto de 1746, o rei DOM JOÃO V de Portugal comunicou aos habitantes das ilhas dos Açores que a Coroa oferecia uma série de vantagens aos casais ilhéus que decidissem emigrar para o litoral do sul do Brasil. Nos termos de um edital fartamento distribuído pelas nove ilhas do arquipélago as vantagens do convite eram evidentes:
- "haverá um grande alívio nas ilhas porque elas não mais verão padecer os seus moradores, uma vez que vão diminuir os males da indigência em que todos vivem;"
- "haverá um grande benefício para o Brasil, já que os imigrantes irão cultivar terras ainda não exploradas."
O edital acenava com uma série de mordomias, a partir do "transporte gratuito até os citios que se lhes destinarem para as suas abitaçoens. E logo que chegarem aos citios que haverão de habitar, se dará a cada casal uma espingarda, duas enxadas, um machado, uma enxó, um martelo, um facão, duas facas, duas tesouras, duas verrumas, uma serra com sua lima e travadeira, dois alqueires (27,5 litros) de sementes, duas vacas e uma égua. No primeiro ano se lhes dará a farinha, que se entende bastar para o sustento, assim dos homens como das mulheres, mas não às crianças que não tiverem 7 anos e, aos que tiverem até os 14, se lhes dará quarta e meia de alqueire para cada mês. Se dará a cada casal um quarto de légua em quadra, para principiar as suas culturas, sem que se lhes levem direitos nem salários algum por esta sesmaria. E quando, pelo tempo adiante tiverem família com que possam cultivar mais terra, a poderão pedir ao governador do distrito".

Sua Majestade definiu que o primeiro estabelecimento de casais açorianos seria feito na Ilha de Santa Catarina e nas suas vizinhanças, "em que a fertilidade da terra,

abundância de gados e grande quantidade de peixes conduzem muito para a comodidade e fartura desses novos habitante.

Os açorianos; como as terras da península (Rio Grande) eram muita areia, ruim para a agricultura. Solicitaram terras nas ilhas e nos RINCÕES do POVO NOVO. Então veio os SILVA, MACHADO, TEIXEIRA, SILVEIRA, MENDES, RODRIGUES, RABELO...

Troxeram a vocação pela agricultura, plantar verduras, o trigo, as frutas. Trouxeram ovelhas e a arte de tecer a lã. Os moinhos de fazer farinha, movidos a vento. A Festa do Divino, a Festa de Reis, (com os ternos de reis), as festas de junho (com os ternos de cantar santinho). A arte de fazer o vinho, a jeropiga, o aguapé. As “cavalhadas” a corrida de argolinhas, a tourada do boi na corda. Danças e musicas e a culinária. A arte de fazer o queijo e a manteiga a ambrosia, ou seja, o bem aproveitar o LEITE.

Dizem que os moradores dos RINCÕES DO POVO NOVO era uma gente braba... Imagina o sujeito ficava mais de ano lá nos AÇORES esperando ter navio... Viagem de quase três meses navio com muita gente, sem higiene, água só para tomar e água que logo ficava “choca”. Alimentação limitada. Medo de tormentas. Muitos adoeciam e morriam na viagem... Chegavam a SANTA CATARINA os mais fortes eram escolhidos para vir pro SUL... Espera ter barco, mais viagem... Chegava ao RIO GRANDE, ficava lá nas dunas PAPANDO AREIA... Vem pro RINCÃO, terra diferente, clima diferente, faz casa, planta horta, aprende a conviver com índio... Quando tá organizado vem a GUERRA... Abandona casa e horta e foge pro RINCÃO DAS PELOTAS ou pro ESTREITO... Quem ficou e botou BANDEIRA BRANCA na frente da casa os PORTUGUESES consideraram TRAIDORES... Os ESPANHÓIS ( mui amigos!) forçaram muitos a irem pro Uruguai... Os que aqui ficaram foram treze anos de duvidas, emboscadas, perseguições... Terminou a GUERRA; a distribuição de terras: as MELHORES TERRAS para os OFICIAIS...

Ve a situação do Sr. JOÃO RODRIGUES DOS SANTOS, até prisioneiro de guerra foi ** Termo de doação de terras anexo**

OS ESPANHÓIS.

Na ocupação espanhola de 1763 a 1776 o Governador de Buenos Aires PEDRO CEBALLOS levou famílias da VILA de SÃO PEDRO, do TAIM e dos RINCÕES DO POVO NOVO para povoar a região de SÃO CARLOS no Rio da Prata (URUGUAI) e para cá mandou famílias de espanhóis (gente de sua confiança).

Depois do fim da guerra é claro que aconteceu muito intercambio entre os que tinham parentes aqui com os que tinham parentes no RIO DA PRATA.

Depois os CAMPOS NEUTRAIS (TAIM A SANTA VITORIA DO PALMAR) foram ocupados por muitos fazendeiros do Uruguai e o caminho desta gente para PELOTAS era por aqui.

Até 1960 por aqui ainda apareciam “Castelhanos” procurando serviços temporários: fazer cercas de arame, domar cavalos, esquilar ovelhas eram OS PAISSANOS.

OS PRETOS DA BEIRA DO RIO.

Muitos dos escravos das Charqueadas de Pelotas, não sei se fugidos ou ganharam liberdade, o certo que nas margens do SÃO GONÇALO tinha muitas famílias, que eram chamados de “Os Pretos da Beira do Rio” (Nota que o São Gonçalo era denominado rio). Viviam da caça do ratão do banhado, que o couro tinha valor e também de cortar palha ( em PELOTAS tinha uma fabrica de colchões que usava muita palha), que também servia para fazer cobertura (telhado) de casas. E o corte do junco: cortavam botavam para secar, batiam para ficar macio e enfardava, o JUNCO era usado para enrestar cebola. Também caçavam e pescavam.

As casas geralmente feitas de palha (parede e cobertura).

Deles a gente herdou muitas crenças, benzeduras e superstições.

Comida, cada comida mais forte... Sabe que nas charqueadas o animal era morto a campo (na CANCHA) e a buchada, patas, cola, cabeça não eram aproveitadas... Os pobres juntavam pra fazer mocotó, dobradinha, MIOLO DE BOI com ovos, NONATO (terneiro que ainda não tinha nacido), língua com batata, rabada com mandioca...

GENERAL ANTONIO DE SOUZA NETTO.

Antônio de Sousa Netto (Rio Grande, 25 de maio de 1803Corrientes, 2 de Julho de 1866) foi um político e militar gaúcho, um dos mais importantes nomes do Rio Grande do Sul. É reconhecido por seu árduo trabalho na Revolução Farroupilha, que durou quase dez anos (de 1835 a 1845), como o segundo maior líder revolucionário.Nasceu na estância paterna, em Capão Seco, no distrito de Povo Novo, da atual cidade de Rio Grande. Era filho de José de Sousa Neto, natural de Estreito (São José do Norte), e de Teutônia Bueno, natural de Vacaria. Por parte de pai, era neto de Francisco Sousa, natural de Colônia do Sacramento. O seu bisavô, Francisco de Sousa Soares, fora oficial de Auxiliares no Terço Auxiliar de Colônia do Sacramento e casara, em 1791, com Ana Marques de Sousa na capela da Fortaleza São João

OS SOUZAS

No fim da GUERRA dos FARRAPOS o ANTONIO DE SOUZA foi para o URUGUAI.

Aqui no CAPÃO SECO só ficou uma irmã dele que casou com um RABELO, mas adotou o SOUZA como nome de família. Deste casal os filhos foram para o URUGUAI, só permaneceu AQUI um filho. Este teve uma grande chácara na BARRA FALSA, talvez a maior chácara que já teve aqui, diziam que ele tinha muitos empregados. Por sua vez este teve vários filhos que também foram para o URUGUAI, aqui só ficou um filho dele: JOSÉ THEOPHILO DE SOUZA, que tinha o apelido de ZECA FELIZ.

Este teve uma grande leitaria na margem do ARROIO PASSO MAL que depois ele transferiu para perto dos trilhos. Casou com LUCIANA VIEIRA DA SILVA (depois SOUZA). Foi ela que em l917 doou o terreno para fazer a ESTAÇÂO, inclusive os diretores da estrada de ferro propuseram botar o nome da estação de LUCIANA SOUZA, mas ela não aceitou e respondeu que gostava muito do nome do lugar. Foi ela que deu o terreno para fazer o COLÉGIO, antes de construir o prédio o colégio funcionou na casa dela. Quando acabou a VENDA que tinha na barranca na frente da estação ela doou o terreno pra construção de uma VENDA nova.

No ano de 1900 um grupo de Souzas do URUGUAI viajou até BAGÉ em carruagens e carroças e em BAGÈ alugaram um VAGÂO de trem e vieram passar uma semana no CAPÃO SECO. Foi a única vez que os filhos do seu ZECA viram os tios e primos.

ZECA FELIZ teve nove filhos (5 homens e 4 mulheres), que ficaram todos por aqui trabalhando com leitaria.

Mais ou menos entre 1895 a 1925 a leitaria deles funcionava com 3 tiradores de leite e dois apojadores. Começava a tirar leite às 6 horas da tarde até as 11 horas da noite. De 11 horas até uma da madrugada descansavam e a uma hora reiniciava a tirar o leite até 5 horas da manhã.

AS ENCHENTES.

Diziam que em 1833 teve uma enchente grande.

Em 1889 teve uma muito grande. O ano de 1889 foi um ano de muitas chuvas e temporais no sul do estado. Dia 30 de janeiro uma chuva torrencial danificou a ferrovia próxima a RIO GRANDE; dia 28 de janeiro (domingo) às 2 horas da tarde um tufão atingiu a vila de CANGUSSU.

No dia 31 de Janeiro a chuva torrencial destruiu plantações nas ilhas e matou gado nos campos do Capão Seco.

O mês de maio começou com muita chuva e enchentes no URUGUAI.

Dia 26 de maio um domingo às 10 horas da manhã em PELOTAS escureceu o tempo e caiu um violento temporal.

Em junho as várzeas do SÂO GONÇALO estavam cheias. SANTA ISABEL debaixo de água, no distrito do TAIM a enchente matou uma família. A estrada de ferro entre o CAPÃO SECO e a ponte ficou danificada.

Os trens de passageiros vinham de RIO GRANDE até o CAPÃO SECO ( avançavam mais ou menos 3 quilômetros adiante da Parada) e dali os passageiros iam de canoas para Pelotas .

No ano de 1914 teve outra enchente grande que também danificou a via férrea e repetiram o mesmo processo de usar canoas.

A de 1941 foi a que mais durou. De abril a maio de 41 o RIO GRANDE DO SUL teve fortes temporais e muita chuva; cidades alagadas inclusive PORTO ALEGRE e PELOTAS.

No CAPÂO SECO encheu o banhado e a água chegou até a frente da estação. Estragou a ferrovia. Daqui para PELOTAS iam de lancha. Depois das chuvas veio muito frio. Primavera e verão seco. Enchente nos campos baixos, e nos campos altos seca. Foi tempo de miséria, tinha gente que comia PREÁ com BROTOS DE GRAVATÀ. A enchente de 41 trouxe muita ressaca e criou muito água-pé, atulhou muito o banhado e o ARROIO PASSO MAL, logo que a água baixou iniciou a construção da

estrada PELOTAS-RIO GRANDE; e o aterro alterou os movimentos de águas no banhado e nunca mais o PASSO MAL se desatulhou.

Em 1959 teve uma ,enchente, que durou poucos dias.

Entre 1959 e 2011 teve mais duas ou três enchentes grandes, não lembro os ANOS, não causaram interrupção de estrada...

A VILA NEGRA.

Um quilômetro da estação do CAPÃO SECO no rumo de PELOTAS, já dentro da Várzea, em 1911 a Companhia Francesa que construiu os MOLHES da BARRA montou um ponto de apoio com Oficinas, deposito de locomotivas, depósito de carvão para abastecer as locomotivas, estação e residências para funcionários. Todos os prédios feitos de madeira e pintados com óleo escuro. Ali também iniciava uma linha férrea auxiliar que era paralela a atual e ia até a Barra por onde trafegavam os trens que traziam pedras do Capão do Leão. A obra durou até 1919.

OS “BANDIDOS”.

Hoje a gente em setembro assiste e participa da FESTAS FARROUPILHAS onde textos e discursos rasgam elogios a os lideres da Revolução e nem para pra pensar que se houve os pró também tinha os contrários.

Durante a enchente de 1914 meu pai levou o gado para o alto da barranca, ( lá perto das VERTENTES do PASSO MAL). Lá tinha uma casa grande muito velha, já em ruínas, onde moravam duas mulheres muito velhas, uma que pouco falava, a outra falava muito e contava que tinha 98 anos ( Nair Bello Brum). Uma delas foi noiva de um tenente das tropas imperiais que estavam aquarteladas na TOROTAMA ao comando do general ISAIS CALDERON. Então ela contava muitas coisas do tempo da “Guerra Grande” e repetia:

- Aqueles bandidos... O bandido do Bento... O orgulhoso do Netto...

Já entre 1950 a 1953 o seu SANTANA que tinha cerca de 80 ANOS contava que conhecera muita gente que aqui vivia nos tempos da “Guerra Grande” e contavam que durante o COMBATE DO PASSO DOS NEGROS, muita gente quebrou panelas para os cacos serem usados como munição nos mosquetes de carregar pela boca.

O CAMINHO PARA RIO GRANDE.

A vila de SÂO PEDRO DO RIO GRANDE era rodeada de altas dunas de areia fina e onde não era duna eram alagados. E antes de chegar a península o SACO DA MANGUEIRA e muitos arroios e sangas o que dificultava o acesso por terra. Iam de canoa, desciam o PASSO MAL até o SANGRADOURO DA MIRIM (é o SÃO GONÇALO), os que moravam perto LAGOA seguiam dali. O mais usado, principalmente pelos moradores do POVO NOVO era ir por terra (a cavalo, de carroça, a pé) até o ARRAIAL e dali ia de canoa. Isso durou mais de cem anos. Veio a se usar o caminho por terra depois da construção da estrada de ferro (1884).

De 1780 quando começou a indústria do charque no RINCÂO DAS PELOTAS a navegação pelo São Gonçalo e a Lagoa dos Patos até SÃO PEDRO DO RIO GRANDE se intensificou e foi crescendo e tinha diariamente barcos de passageiros entre os dois lugares. Nota que a FERROVIA alterou esse fluxo e trouxe desemprego e desativou empresas de navegação. Na enchente de 1889 quando interrompeu a ferrovia, o jornal pelotense CORREIO MERCANTIL trazia editoriais violentos defendendo a NAVEGAÇÂO e atacando o transporte ferroviário.

O FILME.

Em abril de 1912 uma família foi brutalmente assassinada nos BANHADOS na região dos Albardões ( lá perto do Taim , mas pela beira do mar). Esse fato ficou conhecido como: O CRIME DOS BANHADOS. Um morador da vila da QUINTA, funcionário de um açougue foi a tal fazenda levar um recado e de longe viu a casa cheia de URUBUS pousados no telhado e muito fedor...

Pois em PELOTAS um português FRANCISCO SANTOS tinha na Rua Marechal Deodoro esquina General Telles a “Guarany Fabrica de Fitas Cinematográficas” e fez o que é considerado o Primeiro Longa Metragem Brasileiro.

Diretor(es): Francisco Santos (3)

Roteirista(s): Carlos Cavaco

Elenco: Oscar Araujo (1), Antonieta Cancella, Ribeiro Cancella, Jaime Cardoso (2), Pinto de Moraes, Graziela Diniz, Antonieta Duarte, Oscar Duarte, Abel Pera, Manuel Pêra, Jorge Pinto, Francisco Santos (3), Carlos Xavier, Francisco Vieira Xavier

Muitas cenas foram feitas no CAPÃO SECO no ano de 1914. Despertou curiosidade a quantidade de caixas e baús que chegaram pelo TREM DAS CINCO. No outro dia no TREM DAS OITO vieram os artistas. Por muitos dias fizeram as filmagens o que juntava muitos curiosos. Chamava atenção as roupas das artistas, uma delas até fumava numa piteira dourada e grande. Muitas cenas foram feitas num rancho que tinha defronte a PARADA (depois ESTAÇÃO). Pra fazer a cena dos URUBUS em cima do rancho, como era difícil pegar URUBU e aqui tinha muitas criações de PERUS. Botaram um bando de PERUS em cima do rancho e filmaram de longe.

O BALÃO.

O ano eu não lembro foi entre 1906 e 1908. O aeronauta português Magalhães Costa andava no Rio Grande do Sul com um “BALÃO” fazendo demonstrações de vôo. Numa tarde, ele vinha para PELOTAS demonstrar vôos só que o vento fez com que o balão desviasse do rumo, sobrevoou a Várzea e rumou para o CAPÃO SECO. Meu pai viu e me contava: o BALÃO veio de Pelotas de repente rumou para leste e logo retornou rumo oeste e veio cair ali na curva do corredor onde depois foi a “Cabana da Mara”. Ai veio de PELOTAS um trem especial com autoridades e curiosos para recepcionarem o aeronauta. E foi noticia nos jornais do Brasil.

** Sobre esse fato li uma reportagem no DIARIO POPULAR e também num dos fascículos “Pelotas Memória” do NELSON NOBRE, mas a data eu não lembro.**

O PETROLEO.

Tinha em Pelotas um geólogo amador chamado ANÉLIO SARAIVA que fazia estudos nos banhados da região e afirmava que aqui tem PETROLEO.

Lá por 1958 a 1960 quando estavam construindo as torres de transmissão de energia da USINA DE CANDIOTA para RIO GRANDE, foi naquela torre que tem perto dos trilhos, quando estavam cavando para botar uma estaca, começou a jorrar água com uma força que o jato subia mais de 10 metros. Ai veio repórteres, fotógrafos, saiu noticia em jornal. De Pelotas vinha muita gente por cima dos trilhos para ver o fenômeno. Nesta vez o ANÉLIO estudou o caso, acampou ali, e chamou a PETROBRAS pra tomar conhecimento do fato. Hoje está confirmado a BACIA PETROLIFERA DE PELOTAS é verdade.

O LEITE.

O começo da exploração econômica do LEITE no RIO GRANDE DO SUL foi aqui nesta região e o LEITE alimentou gerações e manteve famílias. Mamadeira de 300 ml a cada duas horas e a criança com um baita babeiro que de vez enquanto regurgitava uma baba de leite azedo. O guri tava fraco levava pra tomar LEITE de apojo com canela; ficava forte que saia de pé no chão quebrando geada e dando risada.

Tempos dos LEITEIROS (a cavalo).

Tempos do SL (Trem do leite).

Alegrias, sofrimentos e historias que se perderam na poeira do tempo.

O maior produtor foi BRASIL MENDONÇA ALBANDES.

Uma leitaria de muito capricho (as vacas tinham nome e ninguém batia nelas) e o dono era o maior tirador de leite a mão do LAUDARES LANNES DE SOUZA. Aquecia um panelão de água para lavar os tarros e repetia:

- O LEITE é produto nobre; alimenta CRIANÇAS...

Também era uma maquina de tirar leite o EVANDRO GOMES DA COSTA.

A leitaria mais velha ainda funcionando tem mais de cem anos e já esta nas mãos da quarta ou quinta geração a do DORVALINO MENDES DA SILVA essa se caracterizou pelo capricho no tratamento alimentar das vacas (bastante bóia no cocho) e foi a primeira a iniciar o melhoramento genético do rebanho através de inseminação.

Teve leitarias grandes; a SANTA FLORA tinha mais de duzentas vacas e teve leitarias pequenas... A de uma VACA só... Funcionário da Estrada de Ferro, com família grande, problemas de doença, resolveu comprar uma vaca e tirar leite pra vender. Criava a vaca amarrada na beira dos trilhos (vaquinha Jersey mui magrinha)... Ele vendia por dia uma base de vinte e oito a trinta litros... É que de madrugada ele era o encarregado de abrir o ARMAZÉM DA ESTAÇÃO para os leiteiros tirarem os tarros vazios que tinham vindo na véspera ( no retorno do SL)... Ai o produtor deixava os tarros cheios na plataforma da estação, botava os tarros vazios na carroça e ou ia embora ou ia pra VENDA... Aí o dono da VACA só pegava uma concha e tirava uma concha de leite de cada tarro, claro despejava no dele... Os produtores sabiam que ele tirava leite dos tarros, mas também sabiam das necessidades dele... Era outro modo de pensar, era outro tempo, era o TEMPO DO SL...

A CEBOLA.

A CEBOLA foi um produto agrícola muito desenvolvido nas ILHAS e nos RINCÕES. O esterco das Leitarias era um ótimo fertilizante, os banhados forneciam o junco para as réstias. A cebola envolvia muita mão de obra; preparo de canteiros, corte de junco, plantio, capina, colheita enrrestar. No começo esta cebola era conduzida de carretas até as margens do São Gonçalo ou da Lagoa dos Patos onde era colocada em canoas e levada para RIO GRANDE de onde seguia em navios para SÃO PAULO. Depois de 1910 a ligação ferroviária RIO GRANDE- SÃO PAULO ficou pronta. Ai a CEBOLA era levada de Trem. Depois das rodovias o transporte passou a ser de caminhão.

Cebola em conserva e salada de cebola pra comer com feijão era todos os dias.

Fazia filas de carretas aí na venda para descarregar cebola. Na estação do POVO NOVO tinha um enorme armazém só pra guardar cebola aguardando vagões para carregar.

A CEBOLA movimentou a região e manteve famílias...

Há mais de cem anos viveu nesta região um homem que era muito trabalhador, tinha muitos amigos e pra ele não havia tempo ruim, apelidado de MINGOTE... Pois até hoje os seus descendentes não são conhecidos pelo nome de família, mas, por os MINGOTES.

Três peculiaridades:

Em todas as gerações o alto índice de casamentos entre primos.

Rapidez de raciocínio, até hoje aqui se diz:

- MINGOTE tem a resposta na ponta da língua.

Muito trabalhadores e gente de confiança. No tempo que a CEBOLA era o forte destes Rincões ninguém batia eles em capricho e produção.

POVO NOVO.

Tinha gente que dizia que o primeiro núcleo do POVO NOVO era lá por perto do RINCÃO DO ARRAIAL. No mapa de 1777 nota-se que o CARTOGRAFO escreveu abaixo de POVO NOVO; já não existe.

Em 1763 quando os espanhóis a comando do capitão MOLINA tomaram RIO GRANDE encontraram pequeno núcleo do POVO NOVO em um terreno arenoso, muito ruim pra fazer hortas e teriam dito:

- Pongo dó (tenho pena) deste pueblo...

Diz que vem daí o apelido PONGONDÓ.

Depois da invasão a região despovoou, muitos foram para o Rincão das Pelotas, outros atravessaram a Lagoa e foram para o ESTREITO. Famílias foram levadas para SÃO CARLOS (Uruguai). Os poucos que aqui ficaram enfrentaram perseguições e se envolveram em escaramuças. Em 1766 os portugueses tentaram retomar RIO GRANDE e a região foi palco de lutas.

Em 1776 depois dos combates que resultou na expulsão dos Espanhóis o POVO NOVO passa a ser sede de DISTRITO, com autoridade ( Capitão de Distrito), funcionários Del Rei (Tesoureiro, Guarda livros...) e ai a vila teve um tempo de crescimento. A igreja de NOSSA SENHORA DAS NECESSIDADES é de 1784.

Em 1800 Pelotas crescia a passos largos e tornou o centro da região necessitando muita gente para trabalhar nas charqueadas é de acreditar que o POVO NOVO parou de crescer.

Em 1836 quando os FARROUPILHAS invadiram PELOTAS muita gente saio de lá e foi para o POVO NOVO .

Em 1871... Este artigo consiste em uma transcricao comentada do relato deixado pelo irlandes Michael Mulhall quando de sua passagem por Rio Grande no ano de 1871.

Consideracoes sobre as mudancas urbanas que a cidade

passava; a dinamica portuaria e a dimensao economica da cidade; a descricao da Laguna dos Patos, Ilha dos Marinheiros, Sao Jose do Norte,Arraial, Povo Novo, Capao Seco e do canal Sao Goncalo, tornam esse relato muito

pitoresco e com uma dimensao de ineditismo bibliografico emcertas informacoes prestadas...

DO ARRAIAL AO SAO GONCALO

A parte final da transcricao dos registros do irlandes Michael Mulhall quando de sua estadia em Rio Grande... “Depois de um dia de descanso em Rio Grande, parti com o sr. Crawford e seu cunhado numa baleeira para Arraial, e, apos tres horas de viagem, ancoramos na frente da fazenda do sr. Crawford... As águas estavam tao agitadas, e um vento forte impelia nossas velas com tanta energia, que o barco ficou quase incontrolavel e as vezes ameacou virar. Nossos marinheiros eram dois portugueses bem-humorados e peritos na profissao... A costa de Rio Grande ate o Arraial em uma sucessao de dunas, durante 20 milhas, sem um sinal de vida animal ou vegetal; a viagem a cavalo e tao dificil que a baleeira e o meio de transporte mais utilizado. Ao lado do onde ancoramos, fica a fazenda do sr. Brum, que dizem ser descendente de um colono ingles, possivelmente chamado Brown.A casa da fazenda e confortavel e o dono e considerado um velho gentleman de muito valor. Enquanto os marinheiros atravessavam com dificuldade os baixios, a fim de nos transferirem para um bote menor, uma carroca apareceu na praia, e Jose (pois era o jardineiro do sr. Crawford) entrou com ela na agua,levando-nos para a terra no seu veiculo longo e estreito, como os que se veem nas colonias alemas. Depois de chegar a terra firme, encontramos o velho sr. Brum a cavalo: um anciao robusto para os seus oitenta anos. Um caminho encantador, que me recordou a tranqüila paisagem dos campos da Inglaterra, com os galhos das arvores formando arcos e uma ou duas casinhas de cada lado, nos levou ate a mansao de Arraial, construida no estilo brasileiro.Um lance de escada conduz a uma espacosa sala, quase um salao de baile, de onde se abrem as portas dos quartos a direita e a esquerda. O porao e usado como adega ou outro tipo de deposito. O sr. Crawford comprou este local ha poucos anos pela insignificante soma de 500 libras. Ha 40 acres de campo, metade do qual esta plantado com arvores frutiferas. No ano passado, o jardim produziu 100.000

laranjas. Um majestoso pinheiro, no centro do terreno, pode ser escalado por uma escada, e de seus ramos podem ser apreciadas lindas vistas da regiao, sendo possivel ver claramente a cidade de Rio Grande. Depois da janta, passeamos pelo pomar, onde se encontram macieiras inglesase parreiras de Montevideu entre as frutas tropicais do Brasil. Este localtem quase cinquenta anos, tendo sido construido por um rico comerciante de Rio Grande para um irmao que havia perdido a razao. A projetada estrada de ferro de Rio Grande a Pelotas devera passar poraqui, ficando Arraial a apenas meia hora de distancia de Rio Grande. Um delicioso suburbio de residencias de campo poderia ser estabelecido no meio destes encantadores campos e plantacoes. Entrementes, o sr. Crawford pretende comprar na Inglaterra um iate a vapor, que o levara a Rio Grande numa hora (15 milhas), possibilitandoo a residir no Arraial sempre que quiser... O programa para amanha e o seguinte: como o sr. Crawford tem de voltar a Rio Grande, seu cunhado e eu devemos partir ao amanhecer para Povo Novo e Pelotas, levando um guia nativo que trara de volta os cavalos, pois devemos voltar a Rio Grande por vapor. Surdos ribombos de trovoes introduziram a manha, e uma nuvem negra ao norte pressagiava tempestade. Mas os cavalos ja estavam selados e resolvemos correr o risco, embora o sr. Crawford nos aconselhasse adiar a viagem para o dia seguinte. Uma hora de viagem sobre areias soltas fatigou-nos muito. A paisagem era monotona e sem interesse, vendo-se raramente uma casa ou algum gado. Quando o sol saiu, vimos na nossa frente um mato, que nosso guia apontou, dizendo: La esta Povo Novo!

Quando chegamos a vila, esta nao parecia habitada. Passamos por uma longa alameda de arvores, entre as quais se viam ranchos arruinados, dos quais nem mesmo um cachorro apareceu, e fomos ate a igreja na praca. A igreja estava fechada, mas na frente havia uma bodega, onde arranjamos um copo de cachaca e uma lata de sardinhas, o que serviu como cafe da manha. O dono da bodega queixou-se de que o lugar estava as moscas, e, quando lhe perguntei se havia mais alguem na vila, mencionou um sapateiro, ou melhor, um homem

que costumava praticar esse oficio, mas que agora se metera a beber, vendo o estado miseravel do lugar. Durante nossa estada de meia hora, nao vi nenhum ser vivo na praca ou na igreja, mas o nosso guia me contou um fato terrivel que acontecera ali alguns anos atras. O cura, um padre italiano chamado Jeronimo, foi assassinado nos degraus da igreja, depois de rezar o rosario na quarta-feira de cinzas a tardinha. Houve suspeitas, mas o criminoso nunca foi punido. Embora em decadencia, a igreja e um edificio aceitavel do seculo passado. O avo de meu guia foi batizado ali. Contrariamente ao costume nesta regiao, o cemiterio fica junto a igreja, mas nao ha muito sentido em indagar a respeito da saude publica neste lugubre amontoado de ruinas, que tem de modo improprio o nome de Povo Novo...

1884 com a inauguração da ESTRADA DE FERRO e a estação do POVO NOVO a vila passa a ter um período de progresso.

Com a facilidade de deslocamento muitos moradores de RIO GRANDE e de PELOTAS compraram terrenos nas vilas do CAPÃO DO LEÃO, CERRITO e POVO NOVO para fazerem chácaras onde passavam os fins de semana e o VERÃO. (Aos domingos a estrada de ferro mantinha um trem “O EXCURSSÃO” entre RIO GRANDE e estação PIRATINY (depois esta estação passou ao nome de ENGENHEIRO IVO RIBEIRO, depois trocou para OLIMPO e hoje é a cidade de PEDRO OSORIO.)

O POVO NOVO foi rodeado de belas chácaras e nos verões as famílias enchiam a vila e os jovens a movimentavam... POVO NOVO iniciou o século XX com serviço de bondes (bonde puxado por burros), um hipódromo, comércio ativo, dois clubes, subintendência nova (1904), colégio...

O POVO NOVO hoje (2011) é a sede do TERCEIRO DISTRITO do município do RIO GRANDE, ao qual pertence o CAPÃO SECO.

A estação do POVO NOVO foi muito movimentada a no tempo dos araçás era grande o numero de guris que vendiam araçá aos passageiros dos trens.

A festa da Padroeira: NOSSA SENHORA DAS NECESSIDADES e a FESTA DO DIVINO eram famosas e atraiam muita gente.

No tempo dos MARAGATOS e CHIMANGOS o distrito era bem dividido. Chimangos no POVO NOVO e CAPÃO SECO, Maragatos na TOROTAMA e PALMA (PETROLINE). Dia de festa na Igreja os de lenço branco de um lado da praça e os de lenço vermelho no outro.

ESCOLA ALCIDES MAIA

O COLÉGIO.

Povo Novo e os seus Rincões muito cedo tiveram a preocupação com a instrução.

No principio a coisa funcionava com PROFESSORES particulares. Chegava à idade da criança (era SETE anos) aprender, contratava se o professor. O professor ficava três quatro meses na casa da família e ensinava o alfabeto, os números, escrever, ler, as quatro operações. Depois o irmão mais velho ensinava os mais moços. Quando eu era bem pequeno ainda conheci um professor que já estava velho, mas que na sua vida ensinou muita gente em nossos Rincões; o Professor JOTA VELHO.

Depois mudou o sistema o PROFESSOR conseguia uma peça em alguma casa e ali dava aulas, ou seja, em vez de o PROFESSOR ir onde estava o ALUNO, o ALUNO ia onde estava o PROFESSOR.

O Capão Seco teve uma a qual chamavam de a PRIMEIRA PROFESSORA do CAPÃO SECO, (por muitos anos eu tinha o nome dela anotado num caderno, mas perdi o caderno) essa conseguiu uma sala na casa da dona JULIETA MENDES e ali eram as primeiras aulas do lugar.

Depois que essa professora foi embora, uma das filhas da dona JULIETA, a MADALENA seguiu dando aulas.

Lá por 1943 o povoado se mobilizou e conseguiram o Colégio Municipal. As primeiras aulas foram na casa da dona LUCIANA SOUZA que, aliás, doou o terreno para a construção do prédio destinado a colégio.

A primeira professora foi dona CECI MACHADO, era do Povo Novo.

Era um prédio pequeno de madeira. Uma sala de aula, uma professora para atender as cinco séries do primário. Os alunos usavam um a “Tapa pó” branco, no bolso bordado o nome da escola e no ombro em algarismo romano a série que estava cursando. Naquele tempo a gente usava calças curtas e o calçado era o TAMANCO. Deixava os tamancos na porta e entrava no colégio de pés descalços (pé no chão).

Depois que a dona CECI foi embora; as professoras eram jovens que vinham de RIO GRANDE e como era difícil ir e vir a Rio Grande (de trem, as passagens caras) a professora ficava aqui numa casa de família (sempre foi na casa da venda). Isso durou uns 14 anos entre 1947 a 1960 (ai veio o tempo dos ônibus e a professora vinha e ia todos os dias). Foi nesse período, que a professora morava aqui, que tiveram bons bailes no colégio e a comunidade fazia no colégio a festa de SÃO JOÃO.

Alcides Maya (A. Castilho M.), jornalista, político, contista, romancista e ensaísta, nasceu em São Gabriel, RS, em 15 de outubro de 1878, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 2 de outubro de 1944. Eleito para a Cadeira n. 4, na sucessão de Aluísio Azevedo, em 6 de setembro de 1913, foi recebido pelo acadêmico Rodrigo Octavio em 21 de julho de 1914. Obras: Pelo futuro, ensaio (1897); O Rio Grande independente, ensaio (1898); Através da imprensa (1898-1900), jornalismo (1900); Ruínas vivas, romance (1910); Tapera, contos (1911); Machados de Assis - Algumas notas sobre o humour, ensaio (1912); Crônicas e ensaios, jornalismo (1918); Alma bárbara, contos (1922); O gaúcho na legenda e na história, ensaio (1922); Lendas do Sul, folclore, publicadas na Ilustração Brasileira (1922); Romantismo e naturalismo na obra de Aluísio Azevedo (1926).

Só as BOAS?... É... Teve as RUINS, mas é melhor esquecer...

Uma tragédia... Dois amigos se criaram juntos... 18 anos... Um era muito assustado, tinha medo de FANTASMAS; o outro num inicio de noite se enrola num lençol branco e fica escondido atrás de uma figueira... O assustado carregava uma faca na cintura... No momento do susto puxou a faca e uma facada certeira no coração...

Teve uma quadrilha de roubo de gado...

O degolado perto dos trilhos, jogado dentro de uma moita de gravatás... Nunca a policia identificou o morto e nem descobriu quem matou.

A cobra CRUZEIRA; de tantas histórias, muitos sustos, e TRES vitimas.

O atentado contra o CARRO MOTOR... Era uma espécie de ônibus que andava nos trilhos... As terças, quintas e sábados o carro motor ia de RIO GRANDE A JAGUARÃO e voltava no mesmo dia, passava no Capão Seco as 08h00min horas da noite... Comerciantes de Rio Grande traziam muitas mercadorias de valor do URUGUAI (Jóias, perfumes, sedas, peles)... Na metade do trecho entre PELOTAS e CAPÂO SECO (inverno de 1952), botaram um pedaço de ferro em cima do trilho... O carro motor saltou dos trilhos ficou inclinado, não virou e ninguém se feriu...

Demoliram a ESTAÇÃO...

A DESUNIÃO liquidou o CTG SOUZA NETTO...

Acabaram as HORTAS...

Terminaram as CHACARAS...

Ta diminuindo as LEITARIAS...

Mas, porém, todavia, contudo, entretanto não é o FIM, já que a historia continua...

José Freitas de Souza

Capão Seco, agosto2011

Causos de Remangados

       Aniceto

      O mulato Aniceto viveu no Capão Seco entre os anos de 1920 a 1960, cortava junco e palha nos banhados, fazia biscates. Pois o Aniceto não conhecia o dinheiro. Chegava na venda, botava o maço de notas sobre o balcão e ia pedindo as compras, claro que antes os mais importantes:

    - Dois pacotes de fumo.

    O dono da venda entregava o fumo e separava o dinheiro.

     - Um livro de papel ( de fazer cigarro ).

     Entregava o papel e separava o dinheiro.

     - Uma garrafa de cachaça.

    Entregava a cachaça e separava o dinheiro.

     - Um quilo de erva mate.

     Entregava a erva e separava o dinheiro.

      - Uma rapadura.

      Entregava a rapadura e separava o dinheiro.

     Aniceto pegava o dinheiro que sobrava e dizia:

    - Agora vê o que sobrou se dá pá comprá estas porqueiras que a mulié qué: arroz, feijão, açúcar...

 Capão Seco 19 de setembro de 2011